Teo Telestai

São dez pra uma da manhã e eu ainda não fui deitar.
Sabe, eu demoro tanto a ir dormir, porque esse é o momento que
eu tenho de assumir que estou sozinha.
É quando eu sinto MAIS falta.
Então adio ao máximo.
Sabe, agora eu vi minha caneta de nanquim, e alguns
lápis pastel seco espalhados.
Então pensei que desde pequena, bem pequena, vejo materiais
artísticos.
Cresci assim, em meio aos pincéis, lápis de diferentes tipos.
Papéis.
Pensei que sempre fui diferente, e ela foi uma visionária!
Ela teve coragem de me colocar pra aprender a desenhar.
Eu era única da família que gostava, mas ela topou.
E com isso, ela não me me fez aprender a desenhar, tão somente.
Ela me fez aprender a ter coragem de assumir minhas escolhas.
Mesmo que fosse mais difícil.
Eu parei e lembrei dos desenhos que ela criticava.
Sim, ela era muito rigorosa.
Se não ficasse fotográfico, não estava bom.
Por isso que eu sou antiquada, precisando fazer cursos de desenho gráfico
hight now.
Ela nunca disse com todas as letras.
Mas o fato é que ela apostou nisso.
Porque teve coragem de alimentar o vício me colocando pra fazer mais um curso
e ainda não me questionou quando decidi estudar arte na faculdade.
Mas ela odiava que eu sujasse tudo de nanquim.
E que eu deixasse os pincéis em copos d'agua por dias.
Minhas experiências.
Era engraçado no fim das contas.
Sinto tanta saudade.
Nem sabia que se podia sentir assim.
Nem com mil palavras se descreve
um suspiro desses.
Caramba.
Ontem eu sonhei com ela.
Eu fiz o que sempre faço.
Abracei muito, muito forte.
Por muitas vezes.
E beijei também.
Ela me chamava de carente.
E sou mesmo.
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