Teo Telestai

Agora, vocês querem que eu diga a verdade?
Eu não sei.

Eu não sei fazer nada que preste.
Eu só tento, mas não sai nada.
Nada é bom de verdade.
Tudo enganação.
São vocês que gostam tanto de mim, que acham que eu sou boa em um monte de coisa.
Tudo mentira.
Sou ruim, sou péssima mesmo.
Eu penso nisso com certa frequência ao longo dos anos, mas finjo que nem é comigo.
Não desenho nada que preste.
Tudo que eu faço é organizar traços e manchas sempre baseando-me naquilo que eu já vi.
Criar nada de incrível, maravilhoso, ou pelo menos divino, nã, nã, não.
Também não canto.
Não mesmo.
E pra ser sincera é o que me decepciona mais.
Porque é verdade : eu adoro cantar. Mas não sei, não.
É tudo coincidência. Às vezes eu dou a sorte de ficar bonito.
Só às vezes.
Dançar é um verbo que eu nem vou conjugar nessa confissão.
Escrever. Eu só relato, gente, só isso!
Cadê a poesia e a inventividade que faz as pessoas ficarem abestalhadas?
Não tem.
Só fico aqui novelando a mim mesma.
Fingindo ser superinteressante.
Mas agora chega.
Eu assumo.

A única coisa na qual eu sou realmente boa, é suportar a dor.
Sentir uma dor que te faria gritar, como quem ouve música.
Agulhadas, choques, sucção, absurdos, desaforos, falta de consideração,
egoísmo, filhadaputisse. Tudo isso eu tiro de letra.
Taí um dom que não favorece.
Gostaria de trocá-lo numa feira de usados.
Nem que fosse só por um tempo.

Também acho que sou boa em amar.
Verdade que já fui muito melhor.
Mas ainda sirvo pra escutar, entender, aturar, engolir,
escrever recadinhos carinhosos, beijar, abraçar, querer,
sorrir.